“Os recentes ataques do presidente Jair Bolsonaro à Comissão Nacional da Verdade (CNV) trazem à tona o papel do aguerrido advogado goiano Rômulo Gonçalves, que teria feito 101 anos no último mês de julho. Ele morreu com 90 anos, em 2008, deixando para a história um legado de coragem em nome da livre manifestação de opinião. Muito do que fez está no registro da CNV.”
Direitos Humanos
e Memória
Memorial Rômulo Gonçalves de Direitos Humanos
Este portal, Memorial Rômulo Gonçalves de Direitos Humanos, tem o objetivo de resgatar e trazer à baila a história de Rômulo Gonçalves, que se notabilizou pela defesa de presos políticos durante a ditadura militar de 1964 a 1985, vindo a ser chamado, em Goiás, de “Dr. Liberdade”. Foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção de Goiás, no período de 1962 a 1967. A secional de Goiás, sob sua presidência, foi a primeira a denunciar torturas contra advogados. Sua coragem, determinação, serenidade, ética e honradez, aliadas ao seu profundo humanismo e espiritualidade, foram hauridos por uma vida dedicada, desde muito jovem, aos estudos, ao trabalho, à leitura, ao livre pensar e à liberdade. Liberdade para que o ser humano possa se completar, porque “a pessoa humana é sagrada. Seus direitos, inalienáveis.” Já adulto dedicou-se, mais ainda, às indagações filosóficas e espirituais, as quais foram fundamentais ao equilíbrio nos momentos mais difíceis de sua vida profissional e pessoal.
Abominava armas e violência. Combatia cigarro numa época em que era “normal” o uso do fumo. Passou a ser vegetariano aos 34 anos, quando decidiu emagrecer. Dizia: “ninguém viu sair uma pessoa gorda dos campos de concentração”; “é sinal de inteligência ocupar menos lugar no espaço”; “comida ruim é que dá saúde, porque você come pouco”. Espartano, exigia mais de si do que dos outros. Falava: “conhece-se um homem vendo como ele trata seus empregados”; “aquele que é condescendente consigo mesmo é sempre exigente com os outros”. Amava a natureza e cultivava o silêncio. Escreveu nos bancos de um sítio que teve perto de Goiânia: “Silencia o desejo e ouve, na voz do silêncio, a sinfonia da vida”. Sobre o sofrimento: “quem sofre perde a capacidade de amar”: “interessante notar que, quando se busca o prazer, surge o sentimento de posse, ciúme e de todos os seus desastrosos consectários. O mesmo não ocorre com a alegria. Não há sentimento de posse. Ao contrário: quer-se dar tudo, amar tudo e transmitir aquela beleza a todos, de graça, sem nenhuma exigência”.
Rômulo Gonçalves, além de advogado defensor dos direitos humanos, tinha amor profundo pela sua primeira profissão, a de professor. Atividade exercida a partir dos 19 anos, da qual muito se orgulhava. Foi a maneira como melhor se expressou e marcou gerações de alunos, lecionando em Bonfim (hoje Silvânia), Catalão, Anápolis e Goiânia.
Este MEMORIAL, portanto, além dos dados biográficos do homenageado, insere-se dentro de um momento histórico extremamente difícil para Goiás, (o único Estado em que houve intervenção militar na ditadura de 64) e o Brasil. Os trabalhos jurídicos, artigos e notícias de imprensa, documentos dos órgãos de repressão, livros e relatórios que contam o que ocorreu no País, naquela época, são fontes importantes de pesquisas para os que se interessam pela história do País, pelo valor da liberdade, da democracia e contra todo obscurantismo, ódio e violência.
Boa leitura e navegação!
Wagner Gonçalves
DIREITOS HUMANOS E MEMÓRIA
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Memorial Rômulo Gonçalves de Direitos Humanos

Este portal, Memorial Rômulo Gonçalves de Direitos Humanos, tem o objetivo de resgatar e trazer à baila a história de Rômulo Gonçalves, que se notabilizou pela defesa de presos políticos durante a ditadura militar de 1964 a 1985, vindo a ser chamado, em Goiás, de “Dr. Liberdade”.
Foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção de Goiás, no período de 1962 a 1967.
A secional de Goiás, sob sua presidência, foi a primeira a denunciar torturas contra advogados.
Sua coragem, determinação, serenidade, ética e honradez, aliadas ao seu profundo humanismo e espiritualidade, foram hauridos por uma vida dedicada, desde muito jovem, aos estudos, ao trabalho, à leitura, ao livre pensar e à liberdade. Combateu a violência, as armas e o totalitarismo. Era, essencialmente, um pacifista:
A pessoa humana é sagrada. Seus direitos, inalienáveis.
Já adulto dedicou-se, mais ainda, às indagações filosóficas e espirituais, as quais foram fundamentais ao equilíbrio nos momentos mais difíceis de sua vida profissional e pessoal.
Combatia cigarro numa época em que era “normal” o uso do fumo. Se inquietava com a ofensa ou maus-tratos aos animais. Proibia, no seu sítio, o uso de estilingue ou bodoque pela criançada.
Passou a ser vegetariano aos 34 anos, quando decidiu emagrecer. Espartano, exigia mais de si do que dos outros. Dizia;
Conhece-se um homem vendo como ele trata seus empregados; aquele que é condescendente consigo mesmo é sempre exigente com os outros.
Amava a natureza e cultivava o silêncio. Escrevia em bancos do sítio que tinha perto de Goiânia: silencia o desejo e ouve, na voz do silêncio, a sinfonia da vida.
Sobre o sofrimento: quem sofre perde a capacidade de amar: interessante notar que, quando se busca o prazer, surge o sentimento de posse, ciúme e de todos os seus desastrosos consectários. O mesmo não ocorre com a alegria. Não há sentimento de posse. Ao contrário: quer-se dar tudo, amar tudo e transmitir aquela beleza a todos, de graça, sem nenhuma exigência.
Rômulo Gonçalves, além de advogado defensor dos direitos humanos, tinha amor profundo pela sua primeira profissão, a de professor. Atividade exercida a partir dos 19 anos, da qual muito se orgulhava. Foi a maneira como melhor se expressou e marcou gerações de alunos, lecionando (português e matemática) em Bonfim (no Ginásio Anchieta – hoje Silvânia), Catalão, Anápolis, vindo a se aposentar no Liceu de Goiânia, além de ter sido um dos fundadores e diretor do Ginásio Municipal de Goiânia.
Este memorial, portanto, traz à baila alguns pensamentos e atitudes desse humanista especial, e, ainda, dados e fatos importantíssimos para se conhecer um momento histórico extremamente difícil para Goiás – o único estado em que houve intervenção militar durante a ditadura de 1964/1985.
Os trabalhos jurídicos, artigos e notícias de imprensa, documentos dos órgãos de repressão, livros e relatórios que contam o que ocorreu no País, naquela época, são fontes importantes de pesquisas para os que se interessam pela história do País, pelo valor da liberdade, da democracia e contra todo obscurantismo, ódio e violência.
Boa leitura e navegação!
Wagner Gonçalves
Foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção de Goiás, no período de 1962 a 1967.
A secional de Goiás, sob sua presidência, foi a primeira a denunciar torturas contra advogados.
Sua coragem, determinação, serenidade, ética e honradez, aliadas ao seu profundo humanismo e espiritualidade, foram hauridos por uma vida dedicada, desde muito jovem, aos estudos, ao trabalho, à leitura, ao livre pensar e à liberdade. Combateu a violência, as armas e o totalitarismo. Era, essencialmente, um pacifista:
A pessoa humana é sagrada. Seus direitos, inalienáveis.
Já adulto dedicou-se, mais ainda, às indagações filosóficas e espirituais, as quais foram fundamentais ao equilíbrio nos momentos mais difíceis de sua vida profissional e pessoal.
Combatia cigarro numa época em que era “normal” o uso do fumo. Se inquietava com a ofensa ou maus-tratos aos animais. Proibia, no seu sítio, o uso de estilingue ou bodoque pela criançada.
Passou a ser vegetariano aos 34 anos, quando decidiu emagrecer. Espartano, exigia mais de si do que dos outros. Dizia;
conhece-se um homem vendo como ele trata seus empregados; aquele que é condescendente consigo mesmo é sempre exigente com os outros.
Amava a natureza e cultivava o silêncio. Escrevia em bancos do sítio que tinha perto de Goiânia: silencia o desejo e ouve, na voz do silêncio, a sinfonia da vida.
Sobre o sofrimento: quem sofre perde a capacidade de amar: interessante notar que, quando se busca o prazer, surge o sentimento de posse, ciúme e de todos os seus desastrosos consectários. O mesmo não ocorre com a alegria. Não há sentimento de posse. Ao contrário: quer-se dar tudo, amar tudo e transmitir aquela beleza a todos, de graça, sem nenhuma exigência.
Rômulo Gonçalves, além de advogado defensor dos direitos humanos, tinha amor profundo pela sua primeira profissão, a de professor. Atividade exercida a partir dos 19 anos, da qual muito se orgulhava. Foi a maneira como melhor se expressou e marcou gerações de alunos, lecionando (português e matemática) em Bonfim (no Ginásio Anchieta - hoje Silvânia), Catalão, Anápolis, vindo a se aposentar no Liceu de Goiânia, além de ter sido um dos fundadores e diretor do Ginásio Municipal de Goiânia.
Este memorial, portanto, traz à baila alguns pensamentos e atitudes desse humanista especial, e, ainda, dados e fatos importantíssimos para se conhecer um momento histórico extremamente difícil para Goiás – o único estado em que houve intervenção militar durante a ditadura de 1964/1985.
Os trabalhos jurídicos, artigos e notícias de imprensa, documentos dos órgãos de repressão, livros e relatórios que contam o que ocorreu no País, naquela época, são fontes importantes de pesquisas para os que se interessam pela história do País, pelo valor da liberdade, da democracia e contra todo obscurantismo, ódio e violência. Boa leitura e navegação!
Rômulo Gonçalves, Doutor Liberdade
Deputado Pedro Wilson (GO), Discurso de 12/11/2008
“Queremos lamentar profundamente o seu passamento, aos 90 anos, e afirmar aqui, desta Tribuna da Câmara dos Deputados que, com certeza, Rômulo Gonçalves não morreu, porque os grandes não morrem nunca, ele encantou-se.
Há homens que lutam por um dia e são bons. Há homens que lutam por toda uma vida e são imprescindíveis, como diria o poeta Bertolt Brecht. Rômulo foi desses militantes do direito dos homens, defensor dos fracos e oprimidos, naquela hora mais cruel de nosso povo, nos anos 60 e 70. Destemido, enfrentou, em Goiás, em Juiz de Fora, no Rio de Janeiro, nas barras dos Tribunais de exceção, a insensatez da Ditadura Militar, que tanta angústia trazia à vida de jovens honestinos e suas famílias. Fez de Goiás a sua trincheira de luta. Fez da profissão o seu sacerdócio e cumpriu em nível de sua província, o papel do grande jurista Sobral Pinto de tantas demandas nacionais. Lutou em defesa dos Direitos Humanos, bateu as portas dos tribunais e dos quartéis, dos cartórios e dos judiciários, visitou os porões da ditadura, cumpriu o lado mais nobre de sua profissão. Não foi de esquerda, nem foi de direita: foi advogado.
No dia 1º de novembro, aos 90 anos, ele que nunca se abatia com nada, que não alterava sequer a voz para impor respeito, surpreendeu a todos: Encantou-se. Foi ungido à condição de eterno. Mas vai ficar na memória, no coração de Goiás, onde ficam os mais ilustres, como Cora Coralina. Vai, Dr. Rômulo. Vai, Doutor Liberdade. Que Deus o tenha no Reino da Glória que nós o escrevemos no livro da história. Que esta Casa, a Câmara dos Deputados e o Congresso Nacional transcrevam nos seus Anais o nome de Rômulo Gonçalves: brasileiro, goiano, advogado, militante, cujo nome também era liberdade.”
“Enquanto a maioria de colegas nossos se
ocultava nas trevas do oportunismo ou de interesses subalternos, o Senhor
se expôs à luz do sol, armado apenas com sua coragem, sua honestidade e a
vontade cega de cumprir um dever perante sua própria consciência. A
verdade é que o Senhor infligiu uma severa derrota aos Golias do terror,
nesta primeira batalha e emprestou ao povo de nossa terra um exemplo que
poderá servir de móvel para a vitória dos sofridos sobre seus algozes. A semente do nazi-facismo foi lançada nos quintais de nossos lares.”Carta Zacariotti
Ler carta original completa “escaneada”…
Ler carta original completa “digitada”…
CRONOLOGIA
Rômulo, no Natal de 1936, escreve a crônica “O meu natal...” - Vai sozinho a São Paulo, onde se submete à segunda operação para a correção dos lábios leporinos – em julho; - colação de grau de bacharel de Ciências e Letras no Ginásio Anchieta de Bonfim (novembro). Paraninfo: Pedro Ludovico Teixeira (governador);
Queda do Governo João Goulart. Instala-se no país a ditadura 1964/1985. Rômulo, pela Seccional da OAB, passa a defender advogados presos e/ou torturados.
Como Presidente da OAB/GO, em outubro 1964, denuncia torturas contra o advogado João Batista Zacariotti, que estava preso no 10º Batalhão em Goiânia.
Ministro da Guerra publica nota no Jornal Folha de Goiás, declarando não haver torturas contra Zacariotti. "Somente aqueles que têm interesse na subversão e na corrupção combatem os IPMs" (Ver nota)Em seguida, OAB Goiás solta nota oficial rebatendo as alegações do Ministro da Guerra (Ver nota).
NOTÍCIAS DA IMPRENSA
Nossa hemeroteca reúne notícias de imprensa, que registram o trabalho de Rômulo Gonçalves e seus artigos publicados desde 1938, com sua opinião sobre diversos assuntos históricos, pedagógicos, filosóficos, sempre dentro de uma ótica humanista. O material reunido abrange o período entre 1938 a 1983. Constam também citações e homenagens à sua pessoa em vida e após seu falecimento em 2008. Esses documentos foram obtidos a partir de pesquisa realizada na Hemeroteca Digital Brasileira, da Biblioteca Nacional e material de seu arquivo pessoal.
TESTEMUNHOS

MINISTRO GONÇALVES DE OLIVEIRA, NO HC 41270-GO EM 02/12/1964, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – “Minha maior vitória no STF “.
“Nesse tempo de caça às bruxas, iria se destacar um profissional do Direito como corajoso defensor dos direitos humanos: Rômulo Gonçalves. Ele foi o destemido advogado de grande parte dessas centenas de réus sem culpa, perseguidos por questão ideológica, por crenças que, numa democracia, pode-se discordar, mas nunca desrespeitar.”
HÉLIO ROCHA, JORNALISTA E ESCRITOR GOIANO
“Quem convenceu o cartório a fazer isso foi o Rômulo Gonçalves, ele era o meu advogado. Ele que falou com o cartório, que fez todo o trabalho com o cartório para eu fazer a escritura. Ele que me deu a idéia de fazer a escritura. Qualquer pessoa pode fazer uma escritura pública de declaração. Então, eu fiz uma escritura pública de declaração contando fatos políticos. E isso foi um marco dentro do Direito, porque esse caminho ainda não tinha sido usado para fazer uma denúncia pública contra um ato de força.” [incluindo as torturas sofridas]
HUGO BROCKES – SECRETÁRIO DO GOVERNO MAURO BORGES
“A resistência e a coragem que um grupo de advogados do Estado de Goiás e o presidente da OAB do Estado tiveram em enfrentar o Regime Militar diante da intervenção Federal foi emblemática. Organizados em torno de Rômulo Gonçalves, foi-se construindo o início de uma resistência nacional por parte dos advogados brasileiros que faria com que a Ordem dos Advogados assumisse um papel estratégico na luta pelas verdadeiras liberdades democráticas nos anos seguintes. Advogados de Goiás, São Paulo, Minas Gerais denunciavam torturas, descumprimentos de habeas corpus e prisão arbitrária de menores de idade sem que sequer lhes fosse apresentada a ‘nota de culpa’, o equivalente à abertura de um inquérito, ou nomeados curadores.”