Crônica – O Meu Natal

7.1.1937. Rômulo, com 18 anos, escreve esta “crônica” sobre o Natal. Deveria estar em Catalão, passando férias na casa dos pais. Terminou o Ginásio esse ano (1937)

“ O meu natal!…

           Natal! Papai Noel! Nomes que vibram na alma da criança, na repercussão doce de uma prece! Oh! Que sonhos, sonhos que nos ficam indeléveis n’alma. Papai Noel! Aquele velhinho de barbas brancas… é a ilusão da meninice… Naqueles tempos, “O tempora” (sic), um carrinho, um boneco, umas balinhas, representavam para mim a maior fortuna, a maior felicidade… Na véspera do Natal, quando eu dia deitar-me, colocava os chinelos bem à vista, para que o papai Noel me trouxesse seus presentes… Se, durante a noite, eu acordava, sentia as mão gelarem-se, e, então, despertava mamãe, minha santa mãe – que de tantas ilusões me enchia a alma. Sim, eram ilusões, duras ilusões, porque de manhã, ao acordar-me, olhava curioso para os chinelinhos a ver os presentes de Papai Noel… mas dura realidade, os encontrava vazios, como os havia posto, na véspera…               Que tristeza!. Rezei tanto para que Papai Noel se apiedasse de mim, o menino pobre. Mamãe, então, sentia maior dor do que a minha e procurava consolar-me, enchendo-me novamente de esperanças, daquelas suas esperanças, de um menino pobre, que logo se transformavam em ilusões… Oh!. Que dor quando eu via passarem por mim os meninos ricos, daqueles de quem Papai Noel gostava, com mil brinquedos. Ficava triste, porém, em chegando em casa, confortavam-me os cantos religiosos de minha mãezinha … E eu a interrogava:

– Por que Papai Noel não gosta de mim?

           E ela me enchia de novas esperanças, daquelas esperanças que me faziam vibrar o coração numa ternura doce e feliz. E assim passavam os anos e em cada Natal eu recebia de Papai Noel, aquele velhinho que m’o pintavam tão clemente, uma ilusão, uma desesperança que me enchiam de lágrimas os olhos. E Papai Noel nunca gostou de mim. Hoje que sei que aquilo era uma doce quimera de criança, vejo que, ainda hoje necessito de um Papai Noel, dessa ilusão, enfim. E essa ilusão, que, em menino, eu tinha tantas, hoje me chega e sinto a alma triste, desiludida, como eu sentia em tempos de criança.
           Eram os meus Natais.

                                               (as) Rômulo Gonçalves

 

 

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